Conferências

28/11 - [19:30 - 20:30 h]

Fernando Pessoa, um filósofo no fio da navalha

Prof. Dr. Marcos Lopes (UNICAMP)

“A meio caminho entre a fé e a crítica está a estalagem da razão. A razão é a fé no que se pode compreender sem fé; mas é uma fé ainda, porque compreender envolve pressupor que há qualquer coisa compreensível” (Vicente Guedes).

Para Alain Badiou, a filosofia no século XX não esteve à altura do pensamento poético de Fernando Pessoa. O ensaio “Uma tarefa filosófica: ser contemporâneo de Pessoa”, presente em Pequeno Manual de Inestética (1998), esclarece os motivos desse descompasso entre a criação poética de Pessoa e a produção especulativa dos filósofos.  Por descompasso, entenda-se não somente a dificuldade hermenêutica da filosofia em lidar com aquela poesia, mas, sobretudo, a radicalidade dos dispositivos de pensamento realizados na experiência da heteronímia. Entendê-la como a produção de singularidades distintas (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Pessoa ele mesmo) significa situar o pensamento poético de Pessoa para além da disjunção, por exemplo, entre platônico ou anti-platônico, cartesiano ou anti-cartesiano. Ao ultrapassar essas dicotomias, constitutivas da história da filosofia, a obra de Fernando Pessoa coloca-se em uma situação cimeira e difícil. Ela não apenas redescreve o que se entende por atitude reflexiva, como também leva à beira do abismo as noções de identidade, realidade, verdade e crítica. A dúvida pessoana emula a cartesiana, em dois sentidos: a certeza subjetiva do cogito torna-se incerteza objetiva da res ficta; a vigília da razão é destruída pelo devaneio da imaginação. Nessa emulação, concentra-se o que há de mais robusto e desafiador no pensamento poético. É o que procuraremos apresentar nessa conferência, com uma análise da peça O marinheiro (1913).


Marcos Lopes é professor livre-docente de literatura geral e comparada no departamento de teoria e história literária na Unicamp. Sua tese de doutorado intitula-se “Rosário Profano: hermenêutica e dialética em José Saramago”. É pesquisador de temas relacionados à secularização, espiritualidade e poesia. Coordena desde 2016 o Centro de Estudos Literários, Teorias do Fenômeno Religioso e Artes (CELTA), com sede no Instituto de Estudos da Linguagem – Unicamp. 


29/11 - [19:30 - 20:30 h]

Kafka e Schopenhauer: zonas de vizinhança

Prof. Dr. Maurício Arruda Mendonça 

É necessário algum esforço para fazer dialogar a literatura e a filosofia, pois é algo que nem sempre é aceito com simpatia. Para alguns, há certa dificuldade em aceitar ou compreender a ligação entre um trabalho de linguagem que busca produzir conceitos, e outro que busca, através do dizer poético e da ficção, um espaço próprio no âmbito do pensamento. Para entrarmos a natureza desse problema, é necessário repassar a trajetória desse encontro entre a literatura e a filosofia e, assim, dissiparmos tal dificuldade ou recusa aparente. De minha parte, focalizei o encontro entre literatura e filosofia em minha dissertação de mestrado e, especialmente, em meu doutorado em Estudos Literários, o qual resultou no livro “Kafka e Schopenhauer: zonas de vizinhança”, trabalho em que investigo aproximações entre o célebre escritor tcheco e o conhecido filósofo alemão, demonstrando a total pertinência do problema. Falarei sobre os tópicos acima destacados e procurarei lançar alguma luz sobre esse instigante diálogo entre a literatura e a filosofia.

Maurício Arruda Mendonça nasceu em Londrina em 1964. É escritor, dramaturgo e tradutor. É graduado em Direito e Mestre e Doutor em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Londrina. Tem mais de dez livros publicados. Como tradutor de poesia publicou a antologia Trilha Forrada de Folhas - Nenpuku Sato, um Mestre de Haikai no Brasil; Sylvia Plath, Poemas e Iluminuras (Gravuras Coloridas) de Arthur Rimbaud (1994). Como dramaturgo recebeu os prêmios Shell-RJ de Melhor Autor Teatral nos anos de 2008 e 2012 e, por dois anos consecutivos (2013 e 2014), recebeu e foi agraciado com o prêmio Fringe First Award no Festival de Teatro de Edimburgo, Escócia. Em 2021 publicou o livro Luzes de Outono – Poesia Reunida 1983-2020, e seu livro Kafka e Schopenhauer: zonas de vizinhança (2020) recebeu o Prêmio Mario de Andrade - categoria Ensaio Literário - concurso promovido pela Biblioteca Nacional.

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